segunda-feira, 16 de março de 2009

Pondé na Folha

Pondé, hoje na Folha:
"[...] Volto hoje ao relativismo (sou um obsessivo, já perceberam?), apontando outro impasse. Há alguns dias, na Escandinávia (aquele lugar onde a humanidade deu certo porque as pessoas têm os afetos corretos, as opiniões corretas, os sexos corretos e os lixos corretos), especialistas se reuniram para debater os direitos humanos. De repente, uma ansiedade toma conta da plateia:
não seriam os direitos humanos uma invenção eurocêntrica? Oh! E aí? É justo aplicá-la a todos? O problema surge quando se pergunta: e se alguma "cultura" se sentir ofendida com tais "direitos"? Uma solução seria dar às "culturas" a chance de dizer "não" ao que as agredir na sua integridade. Típica solução da ética festiva do relativismo de salão. Mas como aplicá-la? Como evitar que a ideia de direitos humanos invada a praia dos "outros"?
Vejamos. Onde acaba uma "cultura" e começa outra? Portanto, "quem" teria o direito de dizer "não"? "Quem" ou "o que" seria "uma cultura"? Quem falaria pelas "culturas"? Quem diria "não"? O presidente do país? Delegados da ONU? Xamãs? Alguma ONG?
Fundamentalistas? O "povo"?
Aquele mesmo que normalmente passa por cima de todo mundo, movido seja lá pelo que for?
E mais, que tal pensarmos em alguns "nãos"?
Não à democracia. Não à emancipação feminina, nada de mulheres estudando coisas que complicam o dia-a-dia do patriarcalismo. Não ao aborto. Não à pesquisa com células-tronco. Não à universidade laica.
Não à condenação da "circuncisão feminina". Não à condenação de massacres intertribais na África (afinal, é da cultura deles se matarem, há milênios). Não à transfusão de sangue. Não à proibição de matar bebês com más formações. Não à tolerância religiosa. Não à imprensa livre (aqui talebans de todos os tipos poderiam repudiar tudo de que não gostam). Não ao homossexualismo.
Não às vacinas (isso seria mais típico de quem abraça árvores). Não ao casamento interracial. Não à internet (grande risco de promiscuidade cultural). Não ao sexo fora do casamento. Não aos imigrantes estrangeiros."

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